terça-feira, 24 de julho de 2012

Saraiva, O Historiador...


Morreu há uns dias o célebre apresentador de programas de história da RTP2, como "Horizontes da Memória", José Hermano Saraiva. Eu cresci com estes programas, dado que em criança era grande amante de História e adorava os programas dele. Apesar de muitas situações a ele associadas, acho que foi um bom homem no final e que será recordado durante muito tempo, ou mesmo sempre, nem que seja pela sua célebre expressão corporal dos braços levantados a uns 25º e curvados pelo centro enquanto dizia "Oh meus amigos, estão não é que foi neste castelo que bla bla bla".

Toda a minha geração conhece esta personagem dessa forma que descrevi e pouco mais sabem dele. No entanto, a geração dos nossos pais e avós recordam-se dele de uma forma diferente, menos amistosa. Recordam-se dele por algo que pouca gente da minha geração tem conhecimento, recordam-se dele como deputado pela União Nacional (partido do Salazar); como procurador da Câmara Corporativa, uma entidade governamental contrária à Assembleia da República, dado que representava as corporações económicas, culturais, sociais, etc. e funcionava de forma consultiva; e como o Ministro da Educação que lidou com a Crise Académica de 1969. Como podem perceber, José Hermano Saraiva aparentava ser apologista das ideologias de Salazar.

Além disso, havia outro grande problema: a sua visão para com a História. Quem seguia os seus programas na RTP2 sabe que, para amantes de História, as palavras dele pareciam hipnotizantes, mas também foi graças à sua excelente capacidade de comunicação que fez esses programas. No entanto, à medida que eu crescia, também a minha mente crítica se desenvolvia e comecei a reparar em certas irregularidades nas suas palavras, pois por vezes factos históricos ditos por ele eram, por vezes, diferentes do que livros de História demonstravam, diferentes das emitidas por variados académicos conhecidos na área da História. Ora, acontece que ele tinha um visão, uma interpretação de provas e teorias históricas diferente do mundo académico, sendo, por vezes, contestado.

Já não bastava ser associado ao Salazarismo, também tinha de ser contestado na veracidade dos factos históricos que transmitia.

Mas algo é indiscutível: era um homem extremamente inteligente e culto. Não são as Grãs-Cruz de variadas Ordens, nem os variados cargos educacionais que ocupou, nem a variada que me mostram a sua inteligência e cultura, mas sim a sua forma de falar, a sua forma de estar, ele emanava cultura. Nunca o conheci pessoalmente, algo que adorava ter feito, mas ele nunca aparentou ser alguém de mente fechada, mas sim uma pessoa pronta para uma bela discussão ideológica, aparentava gostar de debater ideias, algo dificilmente associado a um Salazarista (se ele alguma o vez o foi).

E, portanto, não irei recordá-lo com um Salazarista, não irei recordá-lo como historiador polémico, irei sim recordá-lo como uma espécie de um avô que durante imensos anos alimentou a minha paixão pela História de Portugal, um avô que, à semelhança do meu Tio Mané e do meu Avô Zé, todos os dias me fazia companhia com histórias sobre guerreiros, reis e rainhas e navegadores portugueses, todos os dias me recordava que em tempos fomos a maior nação do mundo e que essa força ainda hoje existe, só temos é que deixá-la sair.


Adeus Saraiva, estarás na companhia de grandes reis como D. Afonso III e D. Dinis, de grandes navegadores como Bartolomeu Dias e Diogo Cão, de nobres guerreiros como D. Afonso Henriques e D. Sebastião e dos maiores visionários que Portugal já viu, Infante D. Henrique e D. João II. Sentirás que estás em casa...



Espero que tenham gostado...Se não, a minha preocupação com tal foi-se à história...
Nando Pina

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