São, neste momento em que começo este texto, 6:35 da manhã e acabo de ver um programa no Discovery Civilization, "The Great Palaces of the World", cuja produção é inteiramente estrangeira e é sobre o Palácio de Sintra, mostrando toda a História portuguesa em seu redor numa perspectiva diferente da nossa, pois esta é a nossa História. Apesar de conhecer bem a História de Portugal, uma paixão minha em criança, alimentada pelo meu Tio Mané, ele também um grande amante de História (e não conhecia pessoa que soubesse mais do ele, era homem para competir com José Hermano Saraiva em conhecimentos), esta perspectiva de uma equipa de historiadores estrangeira interessou-me.
À medida que ia vendo o episódio, fui reparando em certas semelhanças entre essa época e a época em que vivemos nas últimas 2 décadas e meia (mas nós somos muito melhores agora, pois nós fizemos as mesmas asneiras mas demorámos 2 décadas a fazer o que nessa altura foram precisos perto de 2 séculos: Lixar a nação).
Para perceberem, vou, rapidamente, contextualizar-vos...
O Palácio de Sintra, o palácio-alvo deste episódio, foi construído no início da Dinastia de Avis, a dinastia responsável pelos Grandes Descobrimentos, o Império Português, que ia desde o Brasil até à China, podendo fazer um desviozinho para um passeio até Timor, e o auge da nossa Nação. Nunca fomos tão poderosos como nessa altura...
Eu sei, tou-vos a dar uma lição de história, que secante...Mas, por favor, dêem-me só mais umas linhas para perceberem a relevância...
Que toda a época de Avis (que durou quase 2 séculos) parece ser o desenho original donde se copiou, com papel vegetal, a época que se vive desde 1986 até hoje:
D.João I entra no poder numa altura em que Portugal vive em plena miséria e fome, sendo considerado como o mais pobre de toda a Europa (faz-vos lembrar alguma coisa?). Engenhoso e temerário, D. João I, acompanhado pelo seu inteligente e sonhador filho Infante D.Henrique, planeia a solução para tirar Portugal, embarcando numa demanda pelo caminho marítimo para Índia, descobrindo, pelo caminho, toda a Costa Africana e, posteriormente, o Brasil, a Costa Sul da Ásia e Timor. No entanto, somente se atingiu esse objectivo 65 anos e 4 reis depois da morte de D. João I. Entretanto, esses 4 reis precedentes a D.João I não olharam as meias medidas nas despesas e, vendo um grande fluxo de riquezas para dentro de Portugal, esbanjaram dinheiro onde não era necessário e o próprio povo se habituaria à boa vida (excepto os marinheiros). Perto do final do reino de D. Manuel I(criador do estilo arquitectónico Manuelino e o Rei que presenciou a descoberta do caminho marítimo para Índia), Portugal estava perto da falência. Apesar de dominar-mos o comércio das especiarias e do ouro, D.Manuel I, apesar de muitos feitos, era um péssimo negociador como também o seu sucessor e nações como Inglaterra, Espanha e Holanda começavam-se a equiparar a nós, retirando-nos poder em vários mercados (Espanha domina o ouro das Américas, Holanda domina África, dominando o marfim e escravos e Inglaterra domina as Índias e suas especiarias). Portanto, D.Sebastião herda um reino falido cheio de pessoas prepotentes a gastarem o dinheiro que não têm. Para se juntar à moda, D. Sebastião tem a ideia de atacar Ceuta, tentando reconstituir o feito do Infante D. Henrique. Bem, saiu-lhe o tiro pela culatra e desapareceu num nevoeiro. Eu pessoalmente suspeito é que ele aproveitou e pisgou-se à Durão Barroso e foi viver com um harém de gajas no meio de Marrocos. Mas pronto, o seu desaparecimento lança Portugal numa crise política desastrosa, em que perdemos a nossa independância para os Espanhóis...
E agora vocês (os que ainda ão se cansaram) pensam: "Porra, tou farto de história, onde queres chegar?!"
Vou agora fazer a associação para aqueles que ainda não atingiram:
- Tal como D.João I, Mário Soares "herda" um país devastado pelo FMI devido à sua falência. Decide que a adesão à CE seria uma boa solução, pois traria investidores estrangeiros e fundos comunitários;
- A solução parece funcionar, pois Portugal e os portugueses começam a ver-se com mais dinheiro e a respirar melhor. Tal e qual como aconteceu com o aparecimento do negócio de marfim, escravos, ouro e especiarias;
- No entanto, à medida que cada vez mais dinheiro aparece, mais é gasto. Desde Cavaco Silva até Sócrates, os governos queimam dinheiro em obras públicas desnecessárias, aumento de salários de forma exponencial, aumento de benefícios fiscais, subsídios para a coça da micose, etc. O mesmo aconteceu com os Reis de Avis, sendo construídos monumentos como Mosteiro dos Jerónimos e reformas em tudo e mais alguma coisa;
- A quem chama Sócrates de ditador e acusa-o de censura na imprensa vai gostar desta: Foi D. Manuel I que autorizou a Inquisição em Portugal e D.João III (seu filho) permite a sua entrada de forma bruta, fazendo fugir os mercadores judeus e muçulmanos, obrigando Portugal a executar empréstimos estrangeiros, isto é, criação duma dívida externa;
- As dívidas vão aumentado nos governos de Durão Barroso e Sócrates (não vamos contar com o Santana Lopes), onde vamos gastando dinheiro que já não temos, aumentando ainda mais as nossas dívidas. Como já disse, D. João III, devido a uma crença religiosa forte, permite a instauração da Inquisição, fazendo fugir os nosso principais mercadores, os judeus e muçulmanos, obrigando Portugal a fazer empréstimos estrangeiros e a importar produtos que dantes dominava. Um bocado como a Madeira começar a importar bananas. Desta forma, Portugal entra em estagnação e, mais tarde, em declínio;
- Para terminar, Sócrates apresenta a demissão, demonstrando o quão desastrosa está o mundo político português e pede ajuda ao FMI, que, como os espanhóis após o desaparecimento de D. Sebastião com um harém de gajas boas (ele tinha 16 anos!!! queria lá ser rei...), vai-nos escravizar...
Com isto, termino com 2 pensamentos:
- Não aprendemos com os erros dos Reis de Avis. Será que vamos aprender com os erros de Sócrates, Cavaco e companhia? Duvido...
- Muitos dizem: "Que venha um Salazar!". Eu prefiro que aparecesse João de Avis, partisse esta porcaria toda e cria-se uma solução para este país. Podemos sempre conquistar o Brasil e a Índia outra vez (estou a brincar).
Espero que tenham gostado. Se não, já sabem que teclas pressionar...
Saudações,
Nando Pina